quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ponto de Interrogação - 1




Amigos, alguém já disse que maturidade de um homem vai sendo atingida na medida em que, no início de sua vida ele aprende a fazer perguntas. Depois ele começa aprender as respostas a essas perguntas. Por fim, ele descobre quais perguntas valem a pena serem feitas.

Temos todos muitas dúvidas o tempo inteiro. Nosso conhecimento é limitado e falho. Mesmo aquilo que sabemos nem sempre é aquilo mesmo. Julgamos as circunstâncias, as pessoas, a vida e até Deus a partir da nossa visão de mundo, das experiências através das quais passamos, do nosso estado de espírito. Por esta razão não é raro chegarmos a conclusões erradas e nos depararmos com dúvidas cruéis.

Houve um homem que viveu este dilema com uma intensidade incomparável. Era um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó. Um dos mais antigos, senão o mais antigo personagem bíblico depois de Noé. A maioria de nós conhece a sua história. Ou melhor, conhecemos uma parte da sua história. Quase todo mundo sabe quase de cor os primeiros dois capítulos do seu livro e... o último. Pouca gente lê o que está no meio. Aquilo que eu chamo de “o miolo de Jó”. E porque só lemos o que nos interessa da história, desprezando o que o Espírito Santo registrou para nosso ensino, tiramos lições pela metade desse personagem, muitas vezes até lições erradas.

Há pouco tempo, dei uma série de estudos nesses capítulos poéticos de Jó e uma porção de gente ficou escandalizada, ofendida até, com algumas conclusões a que chegamos a respeito desse grande homem de Deus. Mas quando eu perguntava “você já estudou os outros capítulo do livro?”, a resposta, sempre sem graça, com uma certa ponta de vergonha era “não, nunca estudei”. Alguns, maliciosamente, chegaram a dizer que eu lia uma Bíblia diferente da deles. Não era bem assim. Eu simplesmente tinha lido o que eles não tinham ainda.

Voltei nos últimos dias a considerar a história de Jó, mais especificamente os questionamentos de Jó. Porque eu também tenho dúvidas. Eu também sofro quando não encontro as respostas que procuro. Eu também sou “um homem na terra Brasil”, embora esteja a anos-luz de ser o “o maior, mais rico e mais influente” da minha cidade. Também não posso afirmar (se você puder, apresente-se) que Deus olha para mim e me vê como um homem “justo, temente a Deus e que se desvia do mal”. Mas sou um homem. Minhas dúvidas brotam desse fato e não daqueles. Tenho dúvidas porque sou limitado em meu conhecimento. Não conheço os bastidores do céu. Não conheço o capítulo 42 da minha vida.

Jó não consegue entender porque Deus, com todo o seu poder, não quer atendê-lo e mudar sua situação (capítulo 27). Ele entende que há necessidade de uma sabedoria verdadeira, do alto, divina, para conseguir desvendar os mistérios da vida que lhe são ocultos (capítulo 28). Aquele que pouco tempo atrás era o maior do Oriente recorda a posição que ocupara, de líder respeitado, de conselheiro, que sempre tinha a última palavra em todas as questões do seu povo (capítulo 29) e contrasta, cheio de mágoa e desconforto, com a triste situação atual em que se encontra (capítulo 30). E concluiu todo esse arrazoado com a pior parte do seu sofrimento: “Clamo a ti, e não me respondes; estou em pé, mas apenas olhas para mim” (30:20).

Esta era, sem dúvida, a pior parte. POR QUE ISSO ESTÁ ACONTECENDO? POR QUE TEM QUE SER DESSE JEITO? E o céu parecia uma parede espessa de pedras, cruel, intransponível, impenetrável.

Você já se sentiu assim? Já passou por momentos em que tudo dá errado e não há explicação lógica para o que está acontecendo? A vida já lhe pareceu injusta e sua dor inexplicável?

Eu já. São pedaços difíceis de atravessar, porque a sensação é de que quanto mais você clama, menos é ouvido. A maioria dos seus amigos desaparece, você queria resposta de Deus para ontem, mas nem amanhã elas surgem.

Acompanhe-me nessa curta série sobre esse majestoso livro da Bíblia. Não que você vai conseguir todas as respostas para a vida. Mas pelo menos vai ficar sabendo que essas coisas já aconteceram com outros.

Marcos Senghi Soares
Publicado originalmente em 2006, na Colunet de www.irmaos.com

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