quarta-feira, 3 de julho de 2013

A cultura da dúvida

Estamos assistindo à chegada de uma tendência nova, insuflada pelos ventos da pós-modernidade: agora é proibido ter convicções. A palavra do momento é “duvidar”. Duvide de tudo: de seus pais, do governo, da mídia. Na mesma esteira, chegou também a onda de duvidar de Deus e de Sua Palavra.

Um dia desses, estava conversando com uma pessoa que se dizia maravilhado com a “nova forma de pensar” que estava aprendendo com o seu “pastor”. Segundo ele, o nosso problema (traduzindo, daqueles que ainda acreditam na Bíblia como a Palavra de Deus) é que nós precisamos aprender a “ler a Bíblia com outros óculos”. O garoto me disse que eu tinha “medo de fazer perguntas”. Outra vez, alguém achou brilhante a frase “quando tudo o que você sabe sobre Deus não resolve mais e o novo ainda não chegou” para dizer que a fé que aprendemos de nossos pais não é suficiente para aquietar o nosso coração.

Mais recentemente, alguém comentou comigo que estava se sentindo um peixe fora d’água no meio dessas pressões, porque volta e meia alguém lhe diz, em tom jocoso, que ele tem “mais convicções do que perguntas”. Como se isso fosse um crime.

Ouvi isso muitas vezes e confesso que cheguei a me perguntar se eles não tinham razão. Isso porque os ataques vêm embalados numa falácia sutil: quando você diz ter alguma convicção, eles retrucam, com ares de pretensa humildade: “mas quem pode dizer que sabe alguma coisa? Isso é coisa de gente enfatuada, de ‘religiosos’. O certo agora é ter muitas dúvidas, muitas perguntas.

Na mesma conversa daquele rapaz que está atrás de óculos novos, ele compartilhou o que considerava uma extraordinária descoberta exegética do seu pastor filósofo: o tal “mestre” afirmou do púlpito que, ao ajoelhar-se, o homem está exercendo o maior papel que um ser humano pode assumir: o de adorador. De joelhos, você é homem de verdade.  Até aí, nenhuma novidade. O “extraordinário” viria a seguir: “me arrisco a dizer”, completou o pregador, “que quando você se ajoelha para orar não importa nem para quem você está orando; o que interessa é que você está exercitando a sua espiritualidade”.

Quando respondi que Isaías 44 não chama isso de “nobre exercício de espiritualidade”, mas de idolatria vã, a resposta foi: “Mas será que é mesmo isso que Deus quis dizer”? Ou seja, a mesma pergunta feita pelo primeiro teólogo liberal da História, a serpente no Éden, ecoava agora nos lábios de um menino recém saído das fraldas, que não sabe a diferença entre a mão direita e a mão esquerda, mas que resolveu beber da fonte errada.

Depois, peguei a minha Bíblia e fui ler o que o apóstolo João escreveu na sua segunda carta. Se esse povo tem razão, então esse apóstolo era um tremendo falastrão, um religioso enfatuado que achava que era melhor do que os outros. Senão, o que o teria levado a escrever na sua primeira carta por OITO VEZES (leia por si mesmo os textos a seguir: I João 2:3; 2:5; 3:2; 3:14; 5:15; 5:18; 5:19; 5:20) a expressão “SABEMOS”. Isto é dúvida ou convicção?

O mais curioso nessa história é que esses mesmos que pregam a dúvida e o questionamento não admitem ser questionados. O mesmo falso profeta que “ensinou” essa bobagem a respeito de “espiritualidade”, quando questionado por mim em um desses fóruns de debate a respeito de algumas de suas posições teológicas, saiu-se mais ou menos assim: “sua pergunta não é importante. Eu não preciso explicar o que escrevo nem o que digo”.

Outro, quando percebeu que alguns leitores discordavam de uma postagem sua no Facebook , simplesmente DELETOU e BLOQUEOU  todos os contrários, deixando apenas os comentários elogiosos. Então, é para questionar, mas só eles podem fazer as perguntas.

Será possível que em 20 séculos de História da Igreja, ninguém tinha percebido o que essa gente “descobriu” agora? E afinal, o que estão realmente questionando? Alguns estão tentando fazer com que a Igreja volte ao Judaísmo; tem gente querendo ser circuncidado, guardar o sábado, tentar cumprir a lei. Outros, querem ressuscitar a mentira do Universalismo (dizendo que “o inferno existe, mas está vazio, porque Deus não vai deixar ninguém lá”). Outros querem que você creia em um deus fraco. Um deles pregou em uma conferência de uma [até então] renomada instituição de formação de líderes que a idéia de um Deus Todo-poderoso é alheia ao Evangelho, porque esse tipo de “deus” é um deus grego. Alguns, mais ousados, combatem a inerrância das Escrituras e sua autoridade normativa.

Então é isso que querem questionar? Ah, bom. Aí fica mais fácil de entender. Porque essas coisas sempre vinham da parte daqueles a quem conhecíamos (corretamente) como os “descrentes”; agora vem daqueles que estão nos púlpitos dos "crentes". Eles precisam decidir de que lado estão.

Eu não sei tudo. Há muitas perguntas para as quais não tenho resposta. Não sou melhor do que ninguém. Mas não tenho medo de ter convicções. Inclusive porque são elas que me mantém de pé quando enfrento momentos de dúvida e incerteza. Existem algumas coisas sobre as quais eu não quero duvidar. Elas são a âncora da alma de quem conhece a Deus experimentalmente, não por ouvir dizer.

Não abro mão dessas verdades. Pedro, embora ainda tivesse muito que aprender quando disse essas palavras, falou o que eu sinto igualmente: “Para quem iremos, Senhor? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (João 6:68-69). É aí que está a diferença: quem diz que crê mas não conhece, está sempre em dúvida.

O que a gente precisa fazer é decidir de que lado a gente está: dos que crêem, ainda que não compreendem tudo, ou dos que duvidam de tudo, apesar de saberem tanto.

Marcos Senghi Soares


2 comentários:

  1. Este assunto é muito pertinente, pois, a exemplo do alerta de Paulo aos presbíteros de Éfeso, os ataques a fé cristã viriam de fora e, portanto, eles precisavam vigiar atentamente. Mas o apóstolo também os alertou quanto àqueles que eram de dentro e que se levantariam para promover heresias no meio do povo de Deus (cf. Atos 20:29).
    Um destes mestres de uma faculdade "teológica" aqui da Grande Vitória afirma que os apóstolos e profetas nunca tiveram a pretensão que seus escritos fossem tidos como Palavra de Deus. O que eles fizeram apenas foi narra a SUA EXPERIÊNCIA. Então, o que temos são APENAS as experiências daqueles homens. Ele me afirmou por escrito que a Bíblia é um livro de homens escrito para homens. Ele afirma que Jó não é um personagem histórico, pois o livro é apenas poesia. Se ele está certo os autores bíblicos que citam Jó como personagem histórico estão errados (cf. Ezequiel 14:14, 20; Tg 5:11). Entre ele e os autores bíblico nem pestanejo em ficar com os últimos.
    O comportamento descrito aqui quanto ao fato de terem muitas perguntas e não gostarem de dar respostas é verdade. Num debate com este "mestre" (o cara tem título de doutor) eu disse a ele que é muito cômodo ficar fazendo perguntas e afirmações sem nunca responder os questionamentos que o jogam contra a parede. Ou seja: adoram questionar, mas não suportam o questionamento.
    O pior e lamentável é que pessoas que antes eram firmes beberam da água poluída destes mestres e hoje nem mais creem que a Bíblia é a Palavra de Deus. Alguns se se aproxima deste tipo de gente a pretexto de manter um diálogo. Até ai tudo bem. Mas dai a se associar com eles para fazer a obra de Deus juntos há uma distancia estratosférica!

    Nos relacionamentos interpessoais eu trato a todos bem, inclusive tais pessoas, mas no que tange o âmbito eclesiológico e o trabalho do Senhor meu posicionamento é o mesmo de Neemias. Nada de associação! Como posso me juntar para promover a obra de Deus com pessoas que criticam os cristãos por querer pregar o evangelho aos que ainda não creram? Com gente que diz que o cristianismo deveria deixar de lado este negócio de querer ganhar os outros para a fé cristã? Não amigos, pra mim não dá! Para mim quem crê assim não pode ser meu parceiro na obra de Deus, pois, apesar de se dizer cristão, tá mais pra campo missionário do que para companheiro na obra de Deus.
    Tire o anúncio do evangelho a ouros e o cristianismo perde sua principal razão de ser a qual é alcançar as almas perdidas que estão caminhando para o inferno. Quem nos mandou pregar foi o nosso Mestre e eu escolhi obedecer a Ele.

    Vou parando por aqui, pois este comentário já tá quase do tamanho do artigo.

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  2. Caro Marcos,

    Apesar de ter deletado meu Facebook, não vi sua atualização por lá, vi pela minha lista de leitura de blogs. Amei o que li. Realmente o ato de DELETAR e BLOQUEAR pessoas contrárias à opinião foi o que me fez sair de lá. Não se pode mais pensar -- é proibido, como diria João, o Alexandre. Não se pode mais discordar e muito menos concordar com quem discorda (oi?). A onda agora é ir com as massas pra onde o mar da ignorância vai levando. Mais, creio que esse filósofo (não posso chamá-lo de pastor), ao dizer que qdo se ajoelha NÃO IMPORTA PRA QUEM SE ESTÁ ORANDO, quis fazer a política da "boa vizinhança" em nome não do evangelho de Cristo, mas de uma igreja (e bolso) cheios. Que pena. Foi-se o tempo em que se pregava Cristo, em que a gnt tremia de medo quando se falava no Apocalipse. Um abraço, querido. Paz.

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