segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Cânticos da Caverna parte 3 (Salmo 56): Teologia do Choro

Na mesma época, quem no mesmo dia até, que escreveu o salmo que consideramos na postagem anterior, está o salmo 56. Portanto, não é necessário repetir o contexto histórico.

As circunstâncias são absolutamente desfavoráveis. Davi não nega isso (v.1-7). Ele não faz uma “confissão positiva”, rejeitando o sofrimento e o aperto que está passando. Ao contrário, ele os relata com todas as letras diante do Senhor. Ele está consciente de que sua vida corre risco. Ele sabe que não pode baixar a guarda, que tem gente no seu encalço. Que as pessoas estão colocando seu pescoço a prêmio.

A vida não está fácil para Davi. A vida não é fácil para ninguém. E então ele chora (v.8). Derrama lágrimas que as mães de crianças pequenas chamam de “choro sentido”. Ao longo da vida você vai descobrindo que o choro, assim como a morte, nos nivela, nos iguala, nos coloca debaixo da mesma situação. O choro é democrático. Choramos quando percebemos que não temos resposta, que não temos saída. Choramos quando temos medo, ou quando estamos com raiva, ou tristes ou quando alguma coisa não saiu conforme o esperado. Choramos quando nos sentimos impotentes diante de uma situação. Quando percebemos que as circunstâncias estão fora do nosso controle, que não temos força para reverter o quadro. É quase um ato de entrega. É o reconhecimento da nossa limitação, na nossa pequenez, da nossa vocação para poeira. A gente veio do pó. Choramos porque somos humanos, porque somos normais.  

A grande descoberta de Davi é que Deus estava presente o tempo todo, recolhendo cada lágrima em seu odre (v.8b c/ II Reis 20:5) e no seu livro (v.8c). A linguagem é poética, mas não poderia descrever de forma melhor o cuidado amoroso do Pai. Quem mais faria isso por nós? Em contraste com aqueles que o seguiam para “espionar seus passos” (v.6), ele sabe que Deus “contava seus passos”.

A esperança de Davi é clara como cristal. Ela é posta “em Deus” (v.4, 10, 11). Na versão Septuaginta, esta expressão é “en Teos”, de onde temos nossa palavra “entusiasmado”. Deus é a nossa grande motivação. Quando esperamos nele, fixamos nossos olhos no “todavia” e não no “ainda que” (Hc 3:17-18). Sua palavra é fiel e digna de louvor (v. 10). Ele não é um Deus confuso e inconstante, que cada dia fala uma coisa diferente. Ele é totalmente confiável. Como ele encontramos a “luz da vida” (v.13). Podemos caminhar com confiança, andando em Sua presença.

Estas palavras não foram o produto de um afastamento da vida real. Não foram escritas em um mosteiro, mas em uma profunda caverna, física e existencial. Se consideramos este salmo uma pérola, porque foi regado com as lágrimas de seu compositor, podemos também considera-lo com inscrição em rocha, porque foi talhado na confiança inabalável da inegável experiência pessoal de quem disse estas palavras. 


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